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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Pedalada no litoral

Estamos um bom tempo sem postar nada por aqui, mas isso não significa que não pedalamos todo esse tempo hehehe

A última postagem foi da 1ª etapa do circuito de cicloturismo. Depois disso a nossa turma já participou da 2ª etapa em Pato Bragado, da 3ª etapa em São Miguel do Iguaçu e, a 4ª etapa, no último domingo, em Santa Terezinha de Itaipu. Fora nossas tradicionais pedaladas dos finais de semana.

E aproveitando o feriadão prolongado do final de outubro/começo de novembro nossa turma viajou para o litoral paranaense para aproveitar e realizar mais alguns passeios.

Saímos de Marechal no dia 30/10 à noite, enchendo um ônibus com 42 pessoas. Chegando em Curitiba pela manhã, o grupo dos marvados "desceu" da capital Curitiba até Caiobá pelo belíssimo cenário da Serra da Graciosa, totalizando 107 km de trajeto.

Ficamos alojados no hotel do SESC Caiobá, onde também nos divertimos fora das pedaladas com diversas atividades oferecidas no local. Até tivemos amigos premiados em concurso de dança..

Na quinta- feira (01/11), nos deslocamos de bike até Pontal do Paraná, percorrendo 62 km. Na sexta-feira (02/11) foi a vez do porto de Paranaguá ser visitado, em mais de 108 km de estrada. Para fechar o passeio pelo litoral do estado, nosso grupo se dividiu no sábado (03/11). Enquanto alguns foram até Guaratuba para um trajeto mais curto, de cerca de 30 km, outros decidiram testar a resistência e enfrentaram 170 km de estrada de chão até Morretes.

Valeu a todos pela companhia na viagem, já estamos planejando a do ano que vem!!!

(Como não estou conseguindo postar algumas fotos, vocês podem acessar o site http://www.olhonabola.com.br/noticias/4710 e conferir algumas delas)

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

1º Circuito de Cicloturismo

No último sábado alguns marvados foram pedalar, mas a pedalada mesmo foi feita no domingo, dia 23, pois nosso grupo participou da primeira etapa do 1º Circuito de Cicloturismo realizada pelos municípios lindeiros ao Lago de Itaipu.

Serão realizadas cinco etapas e a primeira aconteceu em nosso município. Muitos marvados participaram e foi muito legal também encontrar outros amigos cicloturistas da cidade e de outras localidades como Pato Bragado, Entre Rios do Oeste, Guaíra, Santa Terezinha de Itaipu, São Miguel do Iguaçu, Foz do Iguaçu, ...

A largada aconteceu próxima ao estacionamento do frigorífico de aves da Copagril e tínhamos a opção de realizar de dois percursos: um de 13km e outro de 25km. Pedalamos pela Linha Ajuricaba e passamos também pela usina de biogás, onde ocorreu plantio de árvores, retornando ao frigorífico.

Valeu a todos que participaram e vamos nos preparar para a próxima etapa: dia 28 de outubro em Pato Bragado!
























quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Caminho da Fé


A saga de um Pagador de Promessas e sua Comitiva

Índice:

1.         Abertura
2.         A partida
3.         O Campeonato de mountain bike de Cambará
4.         100 km – A esperança se renova
5.         Explorador de peregrinos ou Senhor sincero?
6.         A Serra da Lima
7.         Willmutt para Prefeito!
8.         O menino da porteira
9.         A fé move montanhas
10.      Água aos beija-flores
11.      Renatinho sem corrente – parte 1
12.      Pão de queijo: realidade ou mito?
13.      A moto romaria
14.      Renatinho sem corrente – parte 2
15.      O Mineiro do Chile
16.      Hotel Central e a nuvem de gafanhotos
17.      Galo vermelho
18.      A montanha do Zorro
19.      Mestre e Discípulo
20.      A vingança de Marcondes Silva
21.      Em cima ou embaixo?
22.      Shazan Lírio!
23.      A chegada em Aparecida
24.      O retorno
25.      O pesadelo de Gustavo Borges
26.      Final
 
1.   Abertura

Considerando a área de abrangência www, e que muitos peregrinos buscam informações na rede antes de se aventurar no Caminho da Fé, este é o relato da saga de um Pagador de Promessas e sua Comitiva ao Caminho da Fé de bicicleta. A equipe é composta por: Pagador de Promessas (antigamente conhecido por Mineiro e, em casa, por Alciney) e a comitiva: Marcos Cordeiro, Walter Luis Friedrich (Friedrichnicks, Friedrich Nikkos, ou só Nico mesmo), Altair Storti, Renato Follmann, Marcondes Silva, Gustavo Borges, Paul Lírio Berwig e o Motoca (Sérgio, Serjão).

A iniciativa de fazer o Caminho da Fé partiu de Cumpadi Alciney, que, num momento de súplica, vendo um de seus entes queridos com um sério problema de saúde, rogou a Nossa Senhora que se o mesmo se curasse, ele iria a Aparecida, não sabia como no momento, mas iria! Alcançada a graça, e depois de comentar com os amigos, este narrador falou sobre a existência do Caminho da Fé, pois já havia sido convidado várias vezes por Maurício Mendes, meu concunhado, casado com Sanae Hayashi Mendes, membro da equipe Força Ativa de Avaré – SP, que já fez várias vezes o Caminho da Fé, inclusive, tendo contribuído com valiosos conselhos sobre o Caminho, mas acho que no momento apenas entrou por um ouvido e saiu pelo outro de Cumpadi Alciney. Num congresso de brasílias, ou em Brasília, não lembro, Cumpadi Alciney revela seu fardo a um amigo, e o mesmo lhe sugere o quê? Caminho da Fé! É claro! Não basta ir até Aparecida de carro, tem que passar pelo purgatório antes! E se possível, arrastando um bando de pecadores arrependidos junto!

A programação inicial era fazer o Caminho no mês de Maio, porém, depois de se embolar com Dartel, Gustavo, Edilson e Marcos numa bela descida em Dez de Maio (local), em dez de março (data), Cumpadi Alciney ficou com duas pontas de costelas fraturadas, o que o impediu de pedalar por uns sessenta dias. O médio, inclusive, lhe recomendou usar um daqueles cinturões de lutador de boxe pra não movimentar o quadril. Eu acho que ele teve que fazer outra promessa pra ajudar a pagar a primeira, da mesma forma que as pessoas fazem um empréstimo para quitar outro. Mas a dívida dele só iria crescer. Ele teve que adiar o pagamento: precisava carregar o fardo por mais tempo. Depois de voltar a pedalar e, principalmente, jogar bola, a consciência começa a pesar e tem que marcar outra data: escolheu o feriado de Sete de Setembro.

Aproveitando que a turma do Maurício Mendes de Avaré iria fazer o caminho novamente no mês de Julho, em Agosto fui pra lá e aproveitei pra pegar mais alguns conselhos fresquinhos! Valeu Maurício! Pelo caminho encontramos muitos adesivos da turma de Avaré em pousadas e restaurantes.
Nossa peregrinação começou em Águas da Prata no dia 05 de Setembro de 2012 por volta das 13:00 e terminou em Aparecida no dia 09 às 14:00. O Caminho baseia-se em estradas rurais, algumas praticamente intransitáveis por veículos, alguns trechos somente para 4x4. Todo o caminho é demarcado por setas em postes, mourões, cercas, etc, e a cada 2 km aproximadamente tem uma placa com a quilometragem regressiva até Aparecida, não tem como se perder. Existem muitos locais para hospedagem e alimentação, porém as instalações são modestas, mas a recepção é bastante acolhedora. Não fizemos nenhuma reserva antecipada, apenas ligávamos no local onde pretendíamos descansar no dia seguinte para garantir o pouso.

Se você pretende fazer o caminho de bike, é extremamente importante levar: pastilhas de freio reservas, chave de corrente, câmara reserva, bomba de ar, lubrificante para corrente. Todos os problemas que tivemos foram resolvidos com estes itens. Além disso, se você não tem muito preparo, é melhor programar para fazer o trajeto em mais dias, pois existem muitas subidas fortes.

O caminho possui diversos ramais partindo de outras cidades, como São Carlos, Cravinhos, Mococa, Aguaí e Divinolândia, mas todos se encontram em Águas da Prata, sede nacional da Associação dos Amigos do Caminho da Fé.

2.   A Partida
(Terça feira – 04/09/2012)

 




Lamentavelmente, tivemos uma baixa: Eurides Macedo Junior, que tanto treinou nos morros de São Roque, não poderá nos acompanhar por motivos de força maior. Sentiremos sua falta Profe, reze por nós, lembraremos de você e sua família.

E o safado do Renato, com toda a fé do mundo, quando ficou sabendo da primeira baixa, perguntou: Mas pode desistir ainda? É que eu não tinha muita certeza.

Ao fazer a oração para termos uma boa viagem, o Motoca já se perdeu antes de sair de Rondon: virou no Mercado Weimann e deu de cara na valeta da duplicação da rodovia, e o Nico, muito religioso, já começou a gritar no meio do Pai Nosso: Aí não tem saída! Tem que voltar! Pode virar aqui! E o Lírio já estava achando que era o demônio que estava se apossando do infeliz.

Fazendo jus ao ditado que ele próprio tanto apregoa de que a intimidade é uma merda, mas é boa, Gustavo pede a palavra e diz: pessoal, quero compartilhar com vocês o seguinte: De-lhe um sonoro peido. Depois do manifesto geral, ele ainda argumenta que os peidos dele não fedem. Como eu estava do lado dele, graças a Deus ele estava certo, pelo menos nessa vez. E ele ainda disse que tem muito gás pra compartilhar. Acho que nem será necessário levar bomba nas pedaladas pra encher algum pneu furado, o Gustavo dará conta.

Já dava pra ter uma ideia do que seria a viagem! Pedi a Deus que me desse paciência, pois se Ele me desse força, eu ia dar porrada!

Pouco mais de 150 km depois da partida, este narrador que vos escreve, começa a sentir enjoo, e o negócio vai aumentando, até pedir pro Motoca parar a viatura, e o Gustavo pergunta: É sério mesmo? Sim, pode parar! E nada do Motoca encostar. Pára que eu to mal! E o Nico, que estava ao meu lado, já começa a gritar: Abre a porta! Abre a porta! Enquanto a porta abria e o Nico pulava fora da van com a porta quase fechada ainda, lá foi o jato! Metade dentro metade fora. E o Motoca, já no espírito da comitiva: o vômito desse é igual ao peido do outro: não fede! E como bom companheiro que o Renato é, já pegou a máquina fotográfica e foi fotografar o narrador chamando o hugo. Mas ainda era cedo demais pra achar que já estava curado: nem tínhamos chegado em Umuarama! Chegando em Londrina, não deu outra: Pára de novo que a coisa tá feia! Desta vez o Nico foi enfático com o Motoca, deu um berro: ABRE A PORTA MOTORISTA! E desta vez deu tempo: foi tudo fora! Errei o Nico de novo! Mas também saiu tudo: só faltou sair o estômago.


 Numa das praças de pedágio, o Serjão entra na faixa do sem parar, mas ele passou sem parar e sem pagar porque a viatura não tem o chip, porém, bateu o arrependimento e teve que parar e pagar, e o safado ainda queria que a atendente trouxesse o troco duzentos metros à frente do pedágio!

3.   O campeonato de mountain bike de Cambará

No meio da noite, ao parar numa blitz da polícia rodoviária, todos meio zonzos, alguns cochilando, outros nem tanto, o Motoca conversa com o policial: Boa noite seu guarda! Tô levando o pessoal pra uma corrida de bicicleta em Cambará. Quem tava cochilando acordou: Pra onde vamos? E o guarda: Cadê as bicicletas então? Motoca: Estão amontoadas aqui atrás. E ainda rezando pro policial não ver que tinha uma lâmpada do farol baixo queimada. Depois de sair da blitz, lá vem a explicação: a viatura não tem "permisso" pra fazer viagens interestaduais, e Cambará era a última cidade dentro do Paraná por onde passaríamos. Aí baixou a dúvida: O que vai acontecer depois que sairmos do estado? E depois de Cambará? Lá vem a explicação do Motoca já na ponta da língua para quando encontrar o primeiro guarda paulista: Mas seu guarda, são apenas oito passageiros, não dá pra alugar um micro ônibus! Eu preciso trabalhar! E o pessoal tem pecados a pagar! Vão todos pra Aparecida! Quase começamos a ensaiar um choro coletivo também. Como o Motoca tem mais sorte do que juízo, depois de passarmos de Cambará, não caiu em mais nenhuma blitz, mas um pouco antes, não teve jeito: em outra blitz ainda no Paraná, o policial viu a lâmpada queimada e deu-lhe uma ajuntada, e o Motoca com toda a ingenuidade do mundo, falou: Caramba, não é que tá queimada mesmo! Acho que queimou agora há pouco. Mas o guarda deixou passar, avisando que mais à frente ele ia se fuder com os policiais federais. Aí ele resolveu trocar a dita lâmpada.

Superados os fiascos iniciais, lá pelas tantas, depois de se entortar pra todo lado, tentar esticar as pernas pra ver se melhorava o cochilo, não teve alternativa: Altair jogou o travesseiro em cima do Pagador de Promessas e se encostou. Na fileira de trás estavam: Lírio, Altair e Pagador de Promessas. Na fileira do meio estavam Friedrichnicks, Marcondes e Gustavo. Ao lado do Motoca: Renato e Marcos. Na fileira do meio, a alternativa apresentada pelo Friedrichnicks foi ele deitar no chão e deixar as poltronas pro Marcondes e Gustavo. Como o Gustavo estava do lado da janela, o Marcondes acabou deitado no colinho dele. Depois o povo da fila de trás fez o mesmo: e o Pagador de Promessas também foi pro chão.


Pra quem não conseguiu se localizar na foto acima, é o Pagador de Promessas enfiado embaixo dos bancos da fila de trás.

O que eu vou escrever aqui depois disso? Marcondes e Gustavo escorados romanticamente, e dois papagaios de pirata atrás corneteando.

 
Depois que eu jurei trezentas vezes que o dramin não fazia efeito, olha o resultado! O Gustavo me convenceu a tomar um e ele próprio tomou outro e no final das contas: os dois bocas abertas.

 
E assim seguiu a viagem até Águas da Prata - SP.

4.   100 km – A esperança se renova
(Quarta feira – 05/09/2012 – Trecho Águas da Prata (km 322) a Andradas (km 288))


Chegamos em Águas da Prata por volta das 10:30 da manhã e fomos direto à Associação dos Amigos do Caminho da Fé providenciar as credenciais de peregrinos. No centro da cidade um portal indicava o local do início do Caminho da Fé.

 
Quando o povo tava tirando as credenciais, Serjão viu umas fotos na parede, umas paisagens belíssimas, porém, recheadas de montanhas, e perguntou: Nunca ninguém chamou vocês de loucos?


E pra provar que pelo menos a credencial ele tirou, o Pagador de Promessas pediu pra registrar o histórico momento. Depois de abrir a credencial e ver a quantidade enorme de espaços disponíveis para serem carimbados, ele perguntou pra atendente: Tem que encher tudo isso aqui pra tirar o certificado em Aparecida? A promessa estava se esvaindo! As pernas amoleceram, e antes que as lágrimas começassem, a mulher respondeu: Tem que fazer pelo menos 100 km! Foi um consolo! A esperança de quitar a dívida foi renovada! Até engrossou a voz: 100 km eu me garanto!

 
Saindo pra almoçar, encontramos num cruzamento uma simpática senhora que nos pergunta se somos peregrinos. Papo vai, papo vem, a distinta senhora é a Presidenta da Associação do Caminho da Fé, a Senhora Odete, que de cara nos desanimou de pedalar até Barra, Distrito de Ouro Fino, que não haveria tempo suficiente, ou chegaríamos no escuro. Nossa intenção no primeiro dia era fazer o trajeto de Águas da Prata até Barra, 55 km. Resolvemos seguir até Andradas e lá decidir se encararíamos mais um trecho, já que não tínhamos nenhuma reserva.


Altair, muito ligado em história, encontrou uma Estação Ferroviária que foi inaugurada por Dom Pedro II.

 
Pra registrar o momento posterior à chegada, já com os passaportes nas mãos, voltamos ao portal onde nasceu o Caminho da fé, e pedimos pro Sérgio tirar uma foto, ele pegou a máquina e disse: Eu não tô vendo nada, vou tirar assim mesmo! E pra nossa surpresa apareceu isso.


 
 
Voltamos à van e começamos a montar as bikes, trocar de roupa e besuntar o corpo com protetor solar. De cara pra sair da cidade já uma parede! Pelo menos era asfaltada. Logo adiante dava pra se ter uma ideia do que seria o passeio: era montanha pra todo lado! Não havia mais o que fazer: vamos pra Andradas!

 
Uma primeira visão dos morrinhos que nos esperava:


Placa de quilometragem regressiva: só faltam 314 km até Aparecida!




A ponte de pedra:




O riacho no meio do caminho:


A primeira vista da Cidade de Andradas, já em Minas Gerais.


5.   Explorador de peregrinos ou Senhor Sincero?

Chegando em Andradas, por volta das 16:00, ao passar no Palace Hotel para carimbar o passaporte, o dono do hotel nos convida a ficar por ali mesmo. Pretendíamos seguir até Barra, mais uns 20 km à frente, porém, no meio do caminho tinha a Serra dos Lima, uma escalada de 3 km com 10% de inclinação. Achávamos que daria tempo: teríamos umas duas horas para fazer os 20 km, mas o senhor do hotel argumentou: Não tem nada em Barra! Eu perguntei: O que é Barra: Cidade, Distrito, Vila? A resposta: Barra é sítio, é um pequeno povoado, e a van de vocês terá que fazer outro caminho, ela não consegue chegar até lá pelo Caminho da Fé, precisa ir até Ouro Fino e voltar! Estávamos decididos a seguir em frente, achávamos que ele só queria explorar os pobres peregrinos, mas depois dessa história da van ter que ir até não sei aonde, voltar, e encontrar a gente no meio do nada, resolvemos ficar. Amanhã, quando passarmos em Barra, saberemos se ele tinha boa fé ou se só deu um golpe.

 
Quando o Serjão chegou ao hotel com a van, depois de nos acompanhar no primeiro trecho de peregrinação, e duvidar umas quinhentas vezes das nossas capacidades físicas, mais uma pérola: Vocês são todos loucos mesmo! Eu não acreditava que vocês subiriam aqueles morros, só de olhar já fiquei cansado, quase passei mal, acho que sofro do coração. Vocês têm preparo hein!

6.   A Serra da Lima
(Quinta feira – 06/09/2012 – Trecho Andradas (km 288) a Borda da Mata (km 214))

Saindo de Andradas, o primeiro obstáculo do dia era a Serra dos Lima, uma subida com 10% de inclinação. O bisonho do Lírio passou a conversa no povo de que era a “serra da lima” e que haveria muitos pés de lima pelo caminho. Convenceu três! Não posso citar nomes (somente as iniciais: Friedrich Nikkos, Marcos Cordeiro e Altair Storti), pois apenas ouvi os comentários depois, mas chegaram a tirar canivetes da bagagem e levar na pedalada pra descascar as “limas”. Estão procurando as limas até hoje!

 
7.   Willmutt para Prefeito!

Ainda no município de Andradas, nos deparamos com um outdoor de propaganda política, e o candidato a prefeito de Andradas é, nada mais, nada menos que o Willmutt! Era impossível não perceber a semelhança!

 
Depois da Serra dos Lima, surge Barra, o povoado citado pelo dono do hotel de Andradas como sítio. Procuramos a Pousada do Tio João para carimbar os passaportes, local que pretendíamos ter passado a noite. Chegamos, batemos palma, gritamos, esperneamos e não apareceu ninguém. Como estava tudo escancarado, entramos e vimos o procurado carimbo em cima de uma mesa: carimbamos tudo e demos o fora. Tiramos uma foto na frente da pousada, outras em frente da igreja, e não encontramos uma alma viva! O senhor do hotel de Andradas tinha sido sincero! Na verdade, ele até foi modesto com as palavras: ele poderia ter acrescentado que Barra é um povoado fantasma!

 
Renato se preparando pra atravessar outro riacho sem se molhar, e eu me posicionando para jogar água!


Um pouco mais adiante, em uma bela de uma descida, apesar da grande cautela em todos os penitentes, o Renato, num trecho morro abaixo com muita terra forra e pedras soltas, a fé brotando pelos poros, desequilibrou e pulou da bike feito um gato: a fé do peregrino era tanta que só a bike foi pro chão! Nem deu tempo de fotografar o episódio e ele já estava sobre a magrela de novo!

8.   O menino da porteira

 
A história, cantada por Sérgio Reis, tem sua origem na cidade mineira de Ouro Fino, onde, inclusive, há um belo portal homenageando a história. Como não existe mais boiadeiros pela região, o menino da porteira agora é diferente: ele usa capacete, luvas e sapatilha de ciclismo.


 Chegando em Borda da Mata, uma cidadezinha com dois hotéis apenas, conseguimos pouso no Hotel Village, porém, três quartos para nove pessoas, e ainda teria que colocar alguns colchões no chão porque não tinha cama para todos. Interrogando o atendente: Mas por quê tá tudo lotado? A resposta: Tem uma turma de 20 ciclistas que já fizeram reserva e, inclusive, pagaram. Eles estão vindo de Águas da Prata! Nós tínhamos saído de Andradas, 33 km depois de Águas da Prata, e chegamos por volta das 17:00. Pensamos: Nossa, esse pessoal vai chegar de madrugada! Ou vão mudar de ideia!

9.   A fé move montanhas

Sem problemas os colchões no chão, o sacrifício iria ser dormir no mesmo quarto que o Serjão, que ronca feito uma motosserra velha. Depois de descarregar as bagagens da van e enfiar nos quartos, o atendente do hotel nos disse que conseguiu liberar mais um quarto, mas para apenas uma pessoa. O que não faz a fé de um peregrino num momento de súplica: não é a toa o ditado de que a fé move montanhas! Quando o atendente nos perguntou: Quem vai pra lá? Imediatamente eu apontei pro Motoca: Ele! E nos livramos do massacre da motosserra velha aos nossos ouvidos.

Logo mais, estando quase todos estirados no chão tomando uma merecida cerveja, chegam mais três peregrinos de bike e juntaram-se a nós. Na conversa, disseram que moram em Tambaú, uma cidade anterior a Águas da Prata, mas que também faz parte do Caminho da Fé. Já fizeram dezenas de vezes o caminho, têm muita experiência, e, como pretendiam pedalar até Paraisópolis no dia seguinte, assim como nós, nos recomendaram fazer reserva em algum lugar o mais breve possível, pois corríamos o risco de ficar sem pouso lá. Indicaram-nos o Hotel Central, no qual eles também ficariam, mas já avisando que as acomodações são bastante modestas, mais do que o hotel em que estávamos. Pedimos ao Sérgio pra entrar em contato e providenciar a reserva. Ele teve que jurar pela alma da mãe de que a gente iria ficar no hotel, pois eles exigiam pagamento antecipado, mas conseguiu convencer.

 
Depois que todos já tinham tomado banho e já estávamos quase prontos pra sair pra jantar, começaram a chegar os outros ciclistas, da turma dos 20. Numa breve conversa, informaram que também iriam a Paraisópolis no dia seguinte, e, coincidentemente, também já tinham reserva no Hotel Central.

10.     Água aos beija-flores
(Sexta feira – 07/09/2012 – Trecho Borda da Mata (km 214) a Paraisópolis (km 134))

 Por todo o caminho encontrávamos bebedouros com água potável, instalados gentilmente pelos moradores para atender aos peregrinos. Num deles, próximo a Tocos do Moji, paramos para reabastecer as caramanholas e camelbaks, pois apesar de ainda ser cedo (9:15) e de termos pedalado pouco mais de 1:30 a partir de Borda da Mata, já tínhamos quase esgotado algumas caramanholas de água, devido a uma subida de uns 3km e 12.5% de inclinação. A placa indicava: Água potável – Gentileza do Sr José Bento da Silva. O cuidado com o local era incrível! Para que a água não ficasse correndo pela calçada, havia uma base toda revestida em cerâmica com um ralo no centro. Outro detalhe chamou mais a atenção: a água caía de certa altura e para que ela não ficasse espirrando pra todos os lados e molhasse os peregrinos que dela queriam se saciar, havia uma garrafa pet cortada ao meio, tipo um funil, encaixada no ralo: a água caía silenciosamente dentro do funil e sem espirrar nada para os lados. Dali a pouco apareceu o Sr José Bento, aparentando uns 70 anos, dono de uma serenidade admirável, para conversar com aqueles peregrinos que acabaram de chegar à sua fonte. Perguntou de onde nós éramos, se iríamos até Aparecida, quando pretendíamos chegar lá, etc. Por fim, nos desejou uma boa viagem e que Deus nos abençoe. Saindo dali, comecei a refletir sobre aquela situação: muitas pessoas colocam um frasquinho de água pendurado em uma árvore para alimentar beija-flores e poder admirar a beleza do pássaro e seu voo preciso. Os beija-flores do Sr José Bento são os peregrinos.

 
Grupo de romeiros que seguia a pé para Aparecida.


11.     Renatinho sem corrente – parte 1

Depois de uma série de fortes escalas na parte da manhã, a corrente da bike do Renato não aguentou e abriu o bico, quer dizer, o pino. Pra quem não entende de mecânica ciclística, as correntes têm um pino especial para emenda, um pouco mais grosso que os demais, e justamente esse pino estava se soltando na corrente do Renato, o que fez com que a corrente se enroscasse no meio das coroas dianteiras. Neste momento, é possível imaginar o que se passa na cabeça do peregrino: Meu Deus, eu nem sei onde estou, a van desapareceu, e agora eu estou a pé! O que vai ser de mim?

Depois de caminhar algumas dezenas de metros e reencontrar o grupo, com uma chave de fenda, o Lírio conseguiu tirar a corrente do meio das coroas e com uma chave de corrente recolocou o pino. Mas era preciso observar o resultado mais tarde, pois se o pino de emenda se soltou uma vez, ele já deve estar frouxo e poderá se soltar novamente.
 
 
 Uma pequena subida pela frente:

 
Parece que está pesado!


A visão das estradinhas por onde passamos:


12.     Pão de queijo: realidade ou mito?

Chegando em Estiva, capital nacional do morango, o Serjão já havia localizado um restaurante para almoçarmos, bem em frente à praça central da cidade. Lá foram os famintos! O Marcos foi direto ao balcão, que possuía uma estufa com diversos tipos de salgados, exceto pão de queijo. Interrogando a atendente: Moça, não tem pão de queijo aqui também? Desde que nós saímos de Águas da Prata eu tô procurando um pão de queijo e até agora não achei! Não tem pão de queijo em Minas? Isso é ficção? A moça responde: Olha, seu moço, o senhor vai achar pão de queijo só lá pros lados de Belzonte! Depois do almoço, saindo da cidade avistamos uma placa rodoviária: Belo Horizonte 440 km. E aí Marcos? Vai buscar um pão de queijo?

Depois do almoço, todos foram tiram um cochilo nos bancos da praça, e logo em seguida chegou a turma dos 20, e a praça ficou lotada de peregrinos.

 
13.     A moto romaria

No meio de uma enorme subida, entre Estiva e Consolação, paramos para um breve descanso, beber um pouco de água, e aguardar os retardatários. Começou a chegar motoqueiros e não parava mais! Todos foram se aglomerando ao nosso redor. Juntou uns quarenta motoqueiros e duas camionetas. Eles fazem uma moto romaria de Águas da Prata até Aparecida, começaram apenas uns poucos amigos e agora está desse jeito. Estavam a caminho de Paraisópolis também, assim como nós, e iam pro mesmo hotel que a gente: o famoso Hotel Central. A principal expressão dos motoqueiros ao nos encontrar: Nossa! De moto já é difícil, imagina de bicicleta!
 
 


Comecei a pensar: Nossa! Esse “Hotel Central” deve ser grande! Tá todo mundo indo pra lá!

14.     Renatinho sem corrente – parte 2

Lá pelas 16:00 da tarde, no meio de uma subida forte, a corrente do Renato se entrega novamente. Eu e o Gustavo estávamos parados numa sombra esperando os demais, o Lírio, o Altair e o Marcos já estavam quilômetros à frente. Alguns instantes e lá vêm o Renato empurrando a bike com a corrente quebrada, o Nico empurrando a bike porque não aguentava mais pedalar e o Pagador de Promessas gritando: Cadê o Lírio? Cadê o Lírio? Estragou a bike do Renato de novo! Ele não pode abandonar a gente! Eu falei: Fica calmo Cumpadi, vamos dar um jeito! Vira a bike aí Renato! O Gustavo já estava com a chave de corrente nas mãos, eu peguei e falei pro Renato que iria retirar um pedaço da corrente, eliminando o local da velha emenda, mas ele não poderia mais usar a corrente na coroa grande e nos pinhões grandes atrás, senão iria arrebentar geral. Feito o reparo, seguimos adiante.

 
15.     O Mineiro do Chile

 Todos sabem que o termo “mineiro” é destinado àqueles oriundos, conhecedores, nativos de Minas Gerais, tanto é que muitas pessoas acreditavam que os “mineiros” que ficaram mais de sessenta dias presos numa mina de cobre no Chile eram de Minas Gerais. Mineiro é de Minas, uai!

O pagador de promessas, que antes de se converter a tal, era conhecido como mineiro, e, apenas pela Senhora sua Esposa, por Alciney, não recebia o título de mineiro à toa: quando o sotaque não lhe denunciava, bastava falar em queijo que ele se entregava! Todos acreditavam que ele era de Minas! Mas no terceiro dia de peregrinação, no meio da enésima subida sem fim, ele se revela: Eu conhecia um pouco de Minas, sabia que tinha morro, mas nem tanto! Onde já se viu um mineiro que não conhece Minas? Eu acho que o nosso mineiro é do Chile! O sufoco do pecador era tanto, e já cansado de subir montanhas, que nas curvas ele ia esticando o pescoço pra ver se já vinha outra subida, mas se consolava: Ainda bem que aqui tem bastante mato fechado, só assim não dá pra gente ver a altura dos morros!

 
Até o Altair se entrega a uma subida!






Por do sol em Paraisópolis:


Chegando a Paraisópolis, fomos ao modesto Hotel Central, as expectativas não eram das melhores, pois no dia anterior em Borda da Mata, já fomos avisados, mas realmente o hotel era bem central: ficava bem em frente a igreja. Os motoqueiros já tinham tomado conta das garagens. Os três ciclistas de Tambaú também já estavam lá. Nenhum sinal da turma dos 20.

Na distribuição das acomodações, lá foi eu e o Gustavo pra um quarto e o restante do pessoal amontoado em dois quartos. Até aí tudo bem, o hotel era simples, mas estava bom.

16.     Hotel Central e a nuvem de gafanhotos
(Sábado – 08/09/2012 – Trecho Paraisópolis (km 134) a Campista (km 93))

O famoso Hotel Central:


Igreja em frente ao Hotel Central


Pela manhã quando descemos pra tomar café, o local onde o café era servido era um cubículo! E aquela multidão de motoqueiros, ciclistas, romeiros, peregrinos, etc, avançava sobre a mesa do café feito uma nuvem de gafanhotos! A mesa do café era um pouco maior do que duas mesas de bar juntas. Num cubículo menor ainda, ao lado, uma paciente senhora preparava mais uma jarra de café. E a nuvem de gafanhotos se debruçava sobre a mesa: uns pegando pão e enfiando dentro do pote de margarina, outros virando a térmica de café pra extrair as últimas gotas, outros com um pedaço de bolo em uma das mãos e uma xícara vazia na outra, outros só com um pires nas mãos, outros mexendo o açúcar no café com o dedo, outros engolindo pão seco. De repente a paciente senhora sai do microcubículo com mais uma jarra de café pra tentar pôr na térmica: já tinha gente com a xícara embaixo da torneirinha só esperando ela despejar. Consegui pegar uma xícara de café! Dali a pouco, ela aparece novamente com uma jarra de liquidificador com alguma coisa dentro, tentando abrir espaço sobre a mesa do café pra apoiar o aparelho. Ligou o troço por alguns instantes e já foi despejar o resultado numa das jarras de suco vazias. Era pra ser um suco de abacaxi, mas eu achei que ela só colocou a coroa do abacaxi e água no liquidificador: tava horrível! O atendente do hotel vendo o alvoroço, pegou uma peça de presunto e começou a fatiar: a máquina estava ali mesmo, ao lado! O cuidado era tanto que eu pensei: Nossa, ele vai fatiar a mão daqui a pouco! Fatiava um pouco e jogava em cima da mesa, nem terminava o próximo lote e o primeiro já tinha evaporado. Quando eu estava saindo do cubículo do café, um dos últimos, olhei a mesa e só restavam migalhas! Não tinha mais nada, nem o suco de coroa de abacaxi se salvou!

17.     Galo vermelho

Em todo o trajeto, sempre tem alguma coisa que lembra nossa casa, a família, os amigos, às vezes, algo chama mais a atenção. É difícil acreditar, mas o Lírio, ao avistar o Sítio Galo Vermelho, chegou a soluçar de saudades de casa, e gritava pro Nico: Olha Nico! Olha Nico! Sítio Galo vermelho! Você também não se lembra de casa?

 
18.     A montanha do Zorro

Desde os preparativos para a viagem, e todos os dias anteriores da peregrinação, só se falava na subida do quebra perna. Quando tínhamos uma subida difícil sempre um ou outro perguntava se aquela era igual à do quebra perna. Confesso que na manhã de sábado, ao acordar, a primeira coisa que pensei foi: Meu Deus, hoje é a subida do quebra perna, e a van não vai nos acompanhar! No que eu fui me meter? Seja o que Deus quiser! Até a noite teremos superado esse calvário! Se tiver que caminhar toda a subida, acho que umas três ou quatro horas dá. Ainda bem que eu e o Marcos treinamos pelo menos uma vez carregando as bikes no meio do mato em São José das Palmeiras, e lá foram três horas com as bikes nas costas, o quebra perna não pode ser pior!

Partimos em direção a Luminosa, um vilarejo no pé da Serra da Mantiqueira, início do quebra perna, pra piorar, descendo mais um bocado. Chegando lá, a montanha à nossa direita não deixava dúvidas: é a serra! Mas, será que aquele é o caminho? No meio da montanha era possível ver nitidamente um “Z” ao contrário, como se o Zorro tivesse marcado a montanha com a espada. Perguntando a um morador se aquele era o caminho da fé, a resposta: É por ali memo seu moço! Estávamos prestes a quebrar as pernas, e eu nem tinha feito promessa alguma! Enquanto o pessoal conversava com um morador sobre o caminho que a van deveria fazer, pois ela não conseguiria subir o quebra perna, dei uma volta no vilarejo à procura de um Gatorade. Localizei uma padaria ao lado da igreja: um Gatorade geladinho, um delicioso salgado e uma garrafa de água mineral. O Gatorade foi inteiro, pois achei melhor começar a subir abastecido feito um camelo, do que esvaziar todas as reservas na subida. Voltando ao grupo, eles acharam que eu tinha ido almoçar. Então pessoal, vamos lá?
 
Primeira vista de Luminosa:

 
O Pagador de Promessas, com o óculos do Chico Xavier:


A Serra da Mantiqueira vista de Luminosa:
 
 
A marca do Zorro:
 
 
Alguns trechos do quebra perna:
 




 
 Nico acariciando uma vaquinha: será que ela tá a fim?


Luminosa ficou para trás!



Não precisávamos ter pressa, não adiantava ter pressa, eram 10:15 e tínhamos uns 25 km pela frente até Campista, onde pretendíamos pousar, se conseguíssemos pouso, pois não tínhamos reserva. Iniciamos a escalada, curva pra cá, curva pra lá, alguns trechos de chão batido, alguns trechos com uns 15cm de poeira encobrindo pedras soltas que tornavam quase impossível pedalar, pois era uma pedalada e uma patinada, não tinha como fazer a bike andar: tinha que empurrar ou carregar a bike mesmo, eu optei pela segunda, pois empurrar a bike morro acima num trecho que você não conseguia ver as pedras escondidas na poeira ia cansar mais do que carregá-la. O Lírio, que não consegue se locomover se não estiver em cima da bike, tentava de tudo pra continuar pedalando: subia na bike escorado no barranco, limpava um trecho de chão para poder acelerar, colocava a bike em cima de um morrinho pra ganhar algum embalo, mas não tinha jeito: eram algumas pedaladas, muitas patinadas e stop. Vendo o sofrimento do cristão resolvi ajudar: deixei minha bike encostada no barranco e fui dar uma empurrada no infeliz, primeiro apalpei bem o traseiro dele, até que é macio, e comecei a empurrar, quase caí pisando em pedras, larguei e ele conseguiu avançar um pouco, mas perdeu as esperanças. Joguei minha bike nas costas e segui adiante, passei pelo Lírio, e encontrei o Marcos alguns metros adiante. O restante do pessoal já vinha empurrando as bikes desde baixo. Eram poucos os trechos em que a pedalada era comprometida pelas pedras, mas a inclinação da subida botava à prova o treinamento que havíamos feito. Quem não estava bem preparado empurrou a bike um bom trecho, e provavelmente se arrependeu de tudo, especialmente dos pecados, pois, além da subida, da poeira e das pedras, o sol açoitava o lombo dos peregrinos.
 


Marcondes carregando a bike:

 
Por volta das 13:30 estávamos no topo da Serra da Mantiqueira, numa rodovia que ia até Campos do Jordão, passando por Campista. Inicialmente chegaram Marcondes, Lírio, Altair, Gustavo e Marcos. Esperamos uns 40 minutos até que o Pagador de Promessas, Renato e Friedrich Nikkos aparecessem: havia furado um pneu do Renato. Superamos o quebra perna!

Renatinho borracheiro:


O final do quebra perna:




E lá vêm Renatinho e Friedrichnicks com as pernas quebradas:
 

 19.     Mestre e Discípulo

Seguimos pra Campista por asfalto, o Sérgio tinha conseguido lugar pra gente ficar na Pousada Montês, um lugar fantástico no topo da Serra da Mantiqueira, clima extremamente agradável, um restaurante muito bom, um local místico, ideal para quem quer refletir na vida! Chegamos por volta das 14:00, reservamos um chalé próximo da mata, instalações bem simples, mas aconchegante, com dois cômodos, um banheiro e uma pequena varanda. Um cômodo, que era pra ser uma sala, com quatro beliches, e outro, um quarto, com um beliche e uma cama de solteiro. No quarto ficaram eu, Lírio e Marcos, os demais ficaram na sala.

A pousada:


 O chalé perto do mato:


O cão de guarda da pousada era um lobo, mas com o sutil nome de "urso":


Próximo do chalé, um riacho e um lindo gramado com três grandes círculos feitos com pedras, aparentemente para um luau, segundo Gustavo, uma réplica de um ambiente espiritual da cultura Inca.


O ambiente convidava à reflexão. Neste clima, Gustavo e Altair atingem o nirvana no campo da flatulência. Altair elege Gustavo seu mestre da peidação, porém, Mestre e Discípulo trocam experiências: Altair, com toda sua bagagem, ensina seu mestre a “bombar” com a perna para que o peido aconteça com mais potência.  Lá vai Gustavo por em prática! Vige! Era tanta peidação que até o Serjão se revela: Vocês acham que eu não peido né? Mas eu peido sim! É que eu sou discreto. Dali a pouco o Sérgio se afasta e vai em direção à van: não deu outra: Gustavo grita: Vai peidar né Sérgio?




Nico grita: Olha lá Lirio! Ele está olhando pra você!


Quem é esse e o que ele está fazendo?


Oque vocês acham que o Seu Altair está fazendo com a perna levantada? 


Será que eles estão apenas conversando? Já vi essa cena antes em Cerro da Lola!


Aquela história inicial do Gustavo de que os peidos dele não fediam era só porque o nariz dele não estava funcionando direito, ali, no templo da peidação, ele percebeu que tinha sido curado, não dos peidos, mas do nariz.

20.     A vingança de Marcondes Silva

Depois de três dias aguentando o ataque químico com gás sarin por todos os lados na van, nas pousadas, hotéis e nas paradas para descanso embaixo de árvores, o Marcondes, inspirado pelo ambiente místico da Pousada Montês, foi à desforra! Acho que o fato de ter esvaziado o estômago durante a viagem contribuiu para uma melhor fermentação. Comecei o ataque com napalm logo no final da tarde: todos estavam reunidos próximo da varanda consertando as bikes, eu estava arrumando a minha, e de vez em quando, lá ia um pequeno ataque: todos se afastavam! Realmente era meio forte! Entrei no chalé pra pegar umas pastilhas de freio na mochila e quando voltei tinham levado minha bike a uns 50 metros de distância do grupo: Mas o que aconteceu? E o Lírio: Sai pra lá carniça! Logo mais, ao tomar banho, percebi que realmente estavam com razão, pensei: Minha nossa! Vou tentar salvar a alma aqui no Caminho da Fé, porque o corpo já era!

Saindo de van de Campista a Campos do Jordão para jantar, na volta o Pagador de Promessas pergunta ao Marcos, que estava sentado ao lado do Motoca, se ele passava mal se sentasse atrás, e ele disse que nunca passa mal, então o Pagador de Promessas pede pra ele pra trocar de lugar. Voltando à pousada, Marcos chegou com enjoo, dor de cabeça, náuseas, dor de barriga, mijando por trás, como ele mesmo disse, e tudo o mais. Varou a noite inteira sentado no trono.

Um rodízio de caldos numa panificadora em Campos do Jordão:


 Antes de deitar, quando todos já arrumavam suas camas, comecei a sentir um eminente ataque de napalm se preparando e pensei: Vige! Tenho que ir lá fora, senão vou derrubar a casa! Corri pra varanda, passando pela sala onde a maioria do pessoal estava. Aguardei uns instantes na varanda e voltei ao quarto, mas não teve jeito: a infestação foi geral! O Lírio e o Marcos começaram a reclamar e no meio da discussão o Nico fechou a porta do nosso quarto por causa do barulho, aí o Lírio caiu na gargalhada: Se a carniça aqui tá forte imagina lá com eles! Antes de chegar ao quarto eu tinha passado pela sala logo depois de liberar o napalm na varanda. Tive pena dos meus companheiros. O Gustavo, irritado com o barulho, pede silêncio, e o campeão da cornetagem Lírio diz que ele está bravo porque está perdendo o campeonato de peidos pra mim.

21.     Em cima ou embaixo?

Como o nosso quarto tinha um beliche e uma cama de solteiro, ao chegar me apossei da cama de solteiro, pois já tinha dormido na noite anterior em um beliche e foi horrível: bastava um suspiro e aquele troço balançava. No beliche o Marcos tomou conta do andar superior, restando o inferior para o Lírio, que tentou de tudo para persuadi-lo a retirar o colchão do beliche superior e colocar no chão, só porque na noite anterior o Marcos tinha quebrado a cama ao deitar e foi pedir um tijolo na portaria pra calçar o estrado. Como não era eu que estava embaixo eu disse: Não se preocupe Lírio! Essa cama é mais forte! É só o Marcos subir devagarinho que não vai ter problema! E o Lírio argumentava: Não, mas vai balançar e a gente acorda, não dá pra dormir direito! Nada convencia o Marcos, já sentado no andar superior. Lembrando-se do meu último ataque com napalm, ele me pergunta: Marcondes, você que é engenheiro, quando você peidar de novo, vai feder mais em cima ou embaixo? Eu respondi: Tecnicamente, o gás é quente, e o ar quente tende a subir. Na hora ele pulou do beliche, arrancou o colchão e jogou no chão. E o Lírio se salvou! Tá me devendo essa!

22.     Shazan Lírio!

Em todos os dias do passeio, ao pintar a menor chance, lá ia o Lírio puxar pra cima ou pra baixo as calças do Marcos, mas no chalé em Campista, na hora de se arrumar pra deitar, o Lírio, não sei se por excesso de confiança na seriedade do Marcos, não sei se por burrada mesmo, virou o bundão só de cueca pro lado do Marcos, não deu outra! O Marcos, com toda a energia que lhe restava, ajuntou a cueca do Lírio com as duas mãos, e o Lírio: Agora fudeu! Percebendo a mancada que tinha dado, e experiente que é em puxar a calça dos outros, só se preocupou em salvar os ovos, porque o Marcos deu-lhe um SHAZAN que quase enroscou a cueca na cabeça do Lírio, e se ele não tivesse se protegido tinha cortado os ovos ao meio. Foi impressionante assistir, parecia que o Marcos queria tirar a cueca do Lírio pela cabeça. Quando ele soltou, os fundilhos da cueca desceram até os joelhos do Lírio. Resultado: perda total na cueca. E o safado do Lírio, como tem que se vingar sempre, e o Marcos não estava dando moleza, viu o Altair só de cueca e partiu pra cima, mas de leve, apenas pra atochar no rego, nem se comparando ao SHAZAN que ele havia acabado de levar. Altair, na esportiva, atochou na frente também e virou para o Lírio mostrando os ovos separados!

Depois do alvoroço, todos foram dormir, mas no nosso quarto a janela, por via das dúvidas, ficou aberta, apesar de fazer um frio danado! Quando o silêncio tomou conta, lá vem o Lírio de novo: Tá ouvindo a motosserra? Ainda bem que eles fecharam a porta! O Serjão já tinha ligado a motosserra velha, e, graças a Deus, o Nico tinha fechado a porta que liga o nosso quarto à sala!

23.     A chegada em Aparecida
(Domingo – 09/09/2012 – Trecho Campista (km 93) a Aparecida (km 0))

Amanhece na pousada, no friozinho Gustavo tenta fotografar o bafo:




Um delicioso e tranquilo café da manhã, sem a selvageria do dia anterior:




Saímos de Campista pela manhã com um clima de inverno, todos muito bem agasalhados, mas sabíamos que em breve teríamos que retirar os excessos.




Nem chegamos a Campos do Jordão e já devolvemos todos os casacos, manguitos, pernitos, etc, às mochilas.


Um pequeno trecho de asfalto, entramos numa estradinha de terra e saímos perto de Campos do Jordão, o único trecho difícil do último dia. Mais um carimbo no passaporte no Refúgio dos Peregrinos e vamos descer a serra!


Agora somente por estradas pavimentadas. Uma pausa em um mirante pra apreciar a linda paisagem da Serra da Mantiqueira, e lá vamos nós montanha abaixo!





O acostamento da rodovia até que estava bom, porém, em alguns trechos estava em manutenção, subíamos na margem da rodovia e continuávamos a descida, uma delícia! Velocidade média de 50 km/h, com máximas de 70 km/h. Nas curvas bastava ver se os carros reduziam muito a velocidade, caso contrário, nem usava os freios da bike, era deixar correr! Em pouco tempo estávamos em Pindamonhangaba, por volta das 12:30, faltavam apenas 30 km para Aparecida e, segundo a altimetria e informações anteriores, este trecho seria plano como uma mesa, como de fato foi.

Chegada em Pindamonhangaba:

 
Chegada em Aparecida:


Ao avistar a Basílica de Nossa Senhora, a emoção tomou conta de todos, a peregrinação chega à reta final, o fardo da promessa a pagar está sendo tirado das costas.








Seguimos com as bikes até a secretaria da Basílica para a retirada dos passaportes, encostamos as bikes próximo às de outro grupo de ciclistas que já estavam no local.


Ao lado, a missa das 14:00 está acontecendo: chegar na Basílica durante uma missa, aí sim que a emoção tomou conta! As lágrimas foram inevitáveis. A sensação do dever cumprido, a lembrança dos que amamos, de nossas esposas, filhos, pais, irmãos e amigos, e dedicar a alguém a conquista almejada, ouvindo os hinos e as orações dos fiéis dentro da Basílica, foi indescritível! Todo o esforço, as alegrias, o sofrimento, as montanhas, as pirambeiras, a diversão, as paisagens, destinavam-se àquele momento. Conseguimos, superamos todos os obstáculos, todas as subidas, inclusive a temida do quebra perna, e estávamos dentro da Basílica. Você começa a refletir sobre o que acabou de fazer, e se você não tem uma promessa a pagar, aquilo não pode representar somente uma conquista pessoal, tem que ser dedicada a alguém muito especial na sua vida, alguém que está sempre ao seu lado, mas que não pode estar lá naquele momento. Você reflete sobre suas atitudes, e o que fazer pra se tornar uma pessoa melhor. Tudo isso, dentro da imensidão que é a Basílica de Nossa Senhora.

O Pagador de Promessas recebe os cumprimentos de todos e se acaba em lágrimas:










E para provar que este narrador também esteve lá, e não apenas ouviu essas histórias:


Ficamos mais alguns instantes por ali, e saímos para procurar algum lugar pra comer, pois a fome já estava grande e já passava das 15:00. Precisávamos almoçar e encontrar algum lugar pra tomar banho. Bem em frente à Basílica, um restaurante simples, porém com um Buffet pronto, onde era só pegar o prato e se servir: é aqui mesmo! Começamos a nos servir e no meio da conversa, a garçonete falou que em cima do restaurante tem um rapaz que aluga o banheiro para quem quiser tomar banho. Fechou! Ela foi chamar o cara. O preço normal era R$5.00 o banho, mas ele estava fazendo promoção por R$4.00. O banheiro era limpo, estava ótimo, mas só tinha um: então até que arrumássemos as bikes dentro da van, alguns já foram tomando banho para que pudéssemos assistir a missa das 18:00, a última do final de semana prolongado, no qual em torno de 300.000 pessoas haviam passado por Aparecida.

Na fila, aguardando a vez para tomar banho, um pobre peregrino jogado ao chão: por que será que ele está nesse estado? Será que foi a pedalada do último dia que lhe esgotou as energias? Será que foi por causa da última noite na qual dormiu sentado no vaso? Será que foi porque aliviou a consciência no Caminho da Fé e agora pode descansar em paz?


Vamos para a missa, os que tomaram banho antes, já estão lá dentro:


A imagem de Nossa Senhora que foi encontrada no Rio Paraíba do Sul em 1717:


Os peregrinos rondonenses próximo à imagem de Nossa Senhora, fotografados por Marcos Cordeiro:


Nossa despedida da Basílica:



24.     O retorno

Após a missa, retornamos à van para o último e mais penoso sacrifício: a viagem de retorno, mas antes, uma pausa pro jantar:

 
No meio da madrugada, quase todos dormindo, ou tentando, o motoca se perde em Campinas, o Renato, na tentativa de abaixar o som, aumenta e acorda todo mundo, e o troço só abaixa com o controle remoto que está perdido (nunca vi isso!): o motoca perdido, o controle remoto perdido, o sono perdido, e a sonzeira quebrando os tímpanos! Eu já comecei a apresentar sugestões: Marcos, dá um soco no rádio, ou arranca ele do painel e joga fora, ou vira um copo d’água em cima dele! E o Lírio, que não pôde pedalar no Circuito Vale Europeu, se lembra do Mano´s Tur perdido em Indaial: gira, gira, gira e volta ao mesmo lugar. Ao passar por dois sujeitos mal encarados, o Sérgio, com toda a coragem do mundo, a uns 50 m a frente grita: Sorocapa! É pra cá? Anhanquera? Um dos caras fala: Noosssa! Depois dessa, o motoca mal espera o sujeito completar a explicação e parte pra mais algumas voltas em Campinas até achar novamente a rodovia. Depois de revirar todo o painel o Renato acha o maldito controle remoto do rádio e desliga-o. Ufa! Que alívio!

25.     O pesadelo de Gustavo Borges

Depois de tentar se ajeitar pra todo lado, sem êxito, o Gustavo desiste de tentar dormir. Num comentário mais tarde, ele afirmou que já estava com vontade de parar e ficar em algum hotel. Numa das paradas no meio da madrugada, onde quase todos desceram, o Gustavo desaba em cima de duas poltronas e praticamente desmaia. Segundo ele, a narrativa a seguir foi um pesadelo, eu, pessoalmente, já acho que era o espírito que estava abandonando o corpo tão castigado nos últimos dias.

Gustavo: pessoal, eu vou ficar por aqui, vou pra um hotel descansar que não aguento mais essa van sem poder dormir. Todos foram embora, porém, segundo a lei de Murphy, se algo está ruim, não se preocupe, pode ficar muito pior: a van partiu mas levou todos os pertences dele: roupas, carteira, celular. Eu não acredito que aqueles fdp fizeram isso comigo! Me deixaram sem nada! Eu preciso da minha carteira, da minha mala! Como vou pra um hotel sem nada? Vou tentar ligar pra Selma pra ligar pra algum daqueles fdp voltar e trazer as minhas coisas! Como eles puderam fazer isso comigo? Eu nem sei onde estou? Ahhhhh! E acorda!

Ufa! Como é bom estar na van! Minhas coisas estão aqui! Eles não são tão fdp assim!

O dia amanhece, paramos para tomar café logo depois de Londrina e aproveitamos pra baixar todas as fotos no netbook:

 
E o Lírio, já todo alegre feito um periquito que escapou da gaiola:


Depois de vinte horas de purgatório dentro da van chegamos novamente a Marechal Cândido Rondon, sãos e salvos graças a Deus! Alguns familiares achavam que estávamos voltando de bicicleta!

26.     Final

Esta foi a história (resumidamente) de sete cristãos que acompanharam um pagador de promessas no Caminho da Fé. Pedimos, encarecidamente, àqueles que planejam pagar suas promessas pedalando em algum lugar do planeta, se não pretende ir sozinho, consulte os companheiros antes! Principalmente se o pecado foi muito grande e a promessa tiver que ser proporcional!

Lamento se omiti algum detalhe importante de alguém, peço desculpas, da mesma forma se fui sincero demais, mas já que me elegeram narrador oficial, não posso fugir à verdade.

O sofrimento passado ao longo de cinco dias ao lado de sete caboclos destemidos, nos permite refletir sobre a vida e ver como vivemos bem! Não temos dificuldades, não passamos necessidades, podemos dizer que somos abençoados, mas as alegrias, tristezas, raivas, cansaço, gargalhadas que demos estes dias serão inesquecíveis. Agradeço a todos pelo prazer da companhia: Altair, Nico, Gustavo, Alciney, Marcos, Renato e Lírio: obrigado a todos vocês. Foi uma pena o Eurides não poder participar.

A promessa que Cumpadi Alciney tinha pra pagar era somente dele, ninguém poderia fazer em seu lugar, era pessoal, por um motivo muito nobre, que com certeza valeu todo o seu esforço.