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quinta-feira, 26 de julho de 2012

Pedalada de 25-07-2012 - Os novos destemidos!

Olá Amigos e Amigas do Pedal!
Ontem, 25/07/2012, depois do convite a todos os marvados adormecidos que estão hibernando neste inverno para uma pedalada no feriado rondonense, apareceram somente dois cristãos, eu (Marcondes) e o Marcos Cordeiro, os novos destemidos (o Nico não é mais!). Como o clima estava maravilhoso pra ficar na cama (temperatura agradável e muito nevoeiro) achamos que não ia adiantar esperar mais alguém. Não sei se foi o itinerário previsto que assustou o povo, ou o clima mesmo. A intenção era passar em São Roque, pegar a estrada para Entre Rios, sair pra São José das Palmeiras, Ouro Verde do Oeste, Cerro da Lola, Dez de Maio, Dois Irmãos, Quatro Pontes e retornar a Rondon, com previsão de 98 km e sem previsão de hora pra chegar.
Então partimos em direção a São Roque às 08:10, local previsto para iniciar na trilha de verdade, porque todos os caminhos até São Roque já são muito conhecidos. Como eu não tinha certeza do que nos aguardava depois de São Roque, e o Marcos muito menos, resolvemos ir até Margarida pelo asfalto. De lá pegamos a estrada em frente ao posto de combustíveis para ver se tinha muito barro, mas estava perfeita, inclusive com o clima de Vale Europeu:



Apesas das aparência nem estava frio, o Marcos nem precisou usar o corta vento novo.
Chegamos em São Roque por volta de 09:20, e mal dava pra ver um palmo à frente, de tanto nevoeiro.
Agora começa a trilha: de São Roque até Cerro da Lola eu, como sempre, consultei o GUGLE, e montei a tradicional planilha. A idéia, como já relatado no email de convite, era ir pra São José das Palmeiras, Ouro Verde do Oeste e Cerro da Lola, mas, é claro, por caminhos alternativos.
De São Roque pegamos a estrada em direção à ponte que vai pra Entre Rios, descendo aquela subida do Everaldo, passamos a ponte e logo mais à frente, pegamos à esquerda. Era o início de um trecho que, segundo o próprio GUGLE, não era muito usual, mas as imagens de satélite revelavam um sinal de estrada no local. Só tinha um detalhe: a estrada existiu lá apenas no século passado. Os primeiros 800m tava razoável, meio estrada, meio lavoura de milho recém colhida. As marcações da planilha ainda estavam corretas, porém, deveríamos virar à direita e não tinha mais sinal algum de estrada, e sim uma cerca no caminho:
- E aí Marcos, voltamos ou vamos dar uma olhada mais à frente?
Marcos: Por mim, tanto faz, hoje eu tô a fim de aventura mesmo.
- Bom, segundo a planilha a gente tem uns 1500m aí pela frente até chegar a um descampado onde dava pra ver bem a estrada no GUGLE. Vamo nessa.





Depois de pular a cerca (de arame!), o mato não permitia pedalar, tinha que empurrar ou carregar a bike, mas ainda tava tranquilo. Só fiquei preocupado com onças, pois me lembrei que ainda este ano uma senhora foi devorada por uma na região oeste, mas eu não me lembrei onde. E o Marcos ficou preocupado com as cobras, mas o mato era tão fechado que eu achava que as cobras não conseguiriam circular por ali.
Eu acho que é por aqui Marcos!


A gente não tinha como se perder: à nossa esquerda tinha o rio que tínhamos que acompanhar, e à direita, tinha uma baita de uma montanha, que não queríamos escalar.
Depois de uma hora andando e carregando a bike, avistamos o local onde deveríamos sair:


Tava longe pa caraio!
E aí Marcos tudo bem?
Marcos: Beleza, eu só tô preocupado porque eu falei pra Lu que eu ia chegar lá pelas 13:00 e ela fica uma fera quando tem que almoçar sozinha.
Eu com medo de onça e o cara com medo da esposa!
Mas o bicho é esperto: ele só avisa que não vai chegar quando já tá longe!


Não vai perder as esperanças agora! É tudo o que nos resta!


Depois de duas horas carregando a bike nas costas, começamos a pensar no que faríamos se sobrevivêssemos: eu falei: cara como é bom andar de bicicleta montado nela, ter uma estradinha pra poder pedalar. Se a gente encontrar uma estrada de novo algum dia, eu poderia até beijar o chão. Os braços já estavam doendo de carregar a bike. Se a gente sobreviver, pelo menos teremos alguma história pra contar, e quem sabe, dar alguma risada.
Vamos descansar um pouco nessa pedra!


Já o Marcos não tava mais tão preocupado em apanhar quando chegasse em casa, desde que voltasse pra casa de novo.


As vezes que ele ficava em dúvida se eu sabia onde estávamos, porque é claro que eu não sabia, se eu tinha certeza de que aquele era o caminho, mas a minha única certeza naquela hora era a morte, mas não podia entrar em desespero, porque senão só nos restaria sentar naquela pedra e chorar, eu falava que o rio era nossa salvação: na pior das hipóteses se a gente nadar rio abaixo vamos chegar na ponte de novo e estaremos perto de São Roque outra vez. Então ele me perguntou: será que as bikes afundam?


Três horas depois de muito, mas muito mato, quiçaça, abelha, cipós, banhados, espinhos, arranhões, barrancos, um trecho de plantação de eucalipto, barro, tristeza, saudade, esperança, dor nos ombros, um sinal de civilização: uma porteira!!! Como é bom ver uma porteira!!!
Será que não dá pra escorar o celular em cima do toco pra gente tirar uma foto? E o Marcos: eu só preciso arrumar alguma coisa pra calçar: e ele acha um osso que mais parecia um fêmur humano. Eu falei: vai ver é o resto do último ciclista que passou por aqui no século passado e foi atacado pela onça.
Mas, infelizmente, o Marcos não levou o manual do celular pra ver como programar o disparo automático. Então vai uma foto das bikes juntas.


Tá vendo Marcos, eu sabia que a gente tava no caminho certo! O único detalhe é que o caminho não existe!
Já eram 13:00 e ainda restavam uns 65km pela frente. Voltar, nem a pau!
Bom, adiante seguia uma estradinha feita por tratores e pelo gado, ladeada por cercas, então vamos em frente. Mais um trecho e outra porteira, mas desta vez do outro lado da porteira tinha um rebanho bovino, e quando chegamos na porteira o rebanho fechou o caminho que poderíamos seguir e todos os animais ficaram parados olhando para nós, como se estivessem nos assistindo tipo, vamos ver esses dois malucos pular a cerca. Eu já tava procurando outro caminho, mas o Marcão, corajoso, disse: fica tranquilo, eles estão com mais medo de nós do que nós deles.
Eu disse: a é? Vai na frente! Aí o cowbike (derivado de cowboy), partiu pra cima do rebanho gritando, e passamos.
Agora só nos resta achar alguma alma viva e pedir informação se aquela era a estrada que vai até na rodovia. Uns 2km adiante encontramos um senhor:
- Essa estrada vai até na rodovia?
- Sim, senhor. Voceis vem di ondi? É di Luzmarina?
- Hã? Não, a gente vem daqueles lados. Não tinha uma estrada ali?
- Olha seu moço, fais muito tempo que tinha estrada ali.
- É, a gente descobriu isso hoje. O senhor conhece a estrada que vai pra Cerro da Lola?
- Sim, mais pra frente, passa a fazenda ??? tem uma igrejinha, e mais um quilômetro pega a Maripá.
- Hã? Pra Maripá?
- Não, Maripá é a estrada.
- Ufa! Muito obrigado.
Seguindo em frente por uma estrada cercada por vegetação, chegamos na rodovia que liga São José das Palmeiras a Ouro Verde do Oeste. Ufa, que alívio! O nevoeiro ainda estava presente.



Mal sabíamos o que tinha pela frente.
Pegamos a rodovia, um pequeno trecho de descida, passa uma ponte, e começa a subir, sobe, sobe, sobe, sobe, e o nevoeiro fecha geral. Eu disse, cara a gente já chegou nas nuvens. Olhando para os lados e pra frente não dava pra ver nada. Parecia que tinha um precipício à nossa direita. Continua subindo, e o nevoeiro piorando. Desse jeito a gente não vai ver igreja nenhuma! Mais um pouco e aqui a igreja! Pegamos água, tiramos um pouco do barro das bikes, e, quem diria, sinal de celular! O Marcos: vou ligar pra Lu pra avisar que vou me atrasar pro almoço (já eram 14:00). Eu disse: avisa que vai se atrasar pro café da tarde também.
Depois do telefonema, pergunto: como foi?
- Ah, foi bem! Ela nem ficou brava! Cara eu sou apaixonado por ela!
...
Seguimos adiante, eu sabia que tínhamos que pegar a segunda entrada à esquerda, passamos a primeira, na segunda tinha uma placa, e não estava escrito "ESTRADA MARIPÁ", tava escrito: "PROPRIEDADE PARTICULAR - ENTRADA PROIBIDA". Então eu acho que deve ser a terceira, vamos em frente mais um pouco. Chegamos, é nessa mesmo, no GUGLE dava pra ver essa curvinha. Depois de tudo o que a gente subiu pela rodovia, essa estrada deve ser uma ribanceira, porque lá embaixo tem mais uma ponte no mesmo rio. Vamos em frente. No meio da descida, encontramos um casal:
- Essa estrada vai pra Cerro da Lola:
- Hômi, vai sim, mais tem um subidão tão grande qui faiz tempo qui nóis num vai pra lá! É desse jeito assim (aponta pro céu)!
- Vige! Vamo lá, não temos outra opção!
Chegamos na ponte.



Vai ver a subida nem é tão forte assim! O pessoal que não é acostumado a pedalar acha qualquer subida difícil. Realmente, já encaramos subidas piores.
Chegamos em Cerro da Lola! Vamos ver se o boteco do pavilhão está aberto. Apenas uma porta lateral aberta, e a dona fazendo faxina:
- Boa tarde, por favor, a senhora poderia arrumar alguma coisa pra comer pra dois famintos?
- Depende, o que vocês querem?
- Qualquer coisa, paçoca, salgado, coca cola.
- Tem chips.
- Pode ser. E o Marcos: um pacote bem grande.
- Tem paçoca também.
- Dá quatro. Tem batata frita?
- Tem.
- Dá três pacotes. E uma coca.
- De dois litros?
- Nossa, de dois litros vai ser muito, não tem menor?
- Só de latinha.
- Hum, então vamos começar com duas latas.
- Mas tem de um litro também, só que é de vidro.
- Pode ser!
Feito o rango, vamos pra Dez de Maio pelo atalho do Sergio.
Saindo de Dez de Maio, em direção à curva cinco, o nevoeiro tomava conta:



E o Marcos: toma cuidado nessa estrada, que o pessoal costuma se perder nas curvas.
É verdade.
Chegando em Dois Irmãos, pausa pra chupar uma manga comprada de um vendedor ambulante: o gordinho bateu o olho na manga e arregalou: nossa, você viu, é uma manga rosa!
Na saída da vila, uma criança de uns 3 anos que estava brincando com um adolescente, pára, começa a olhar pra gente, se aproxima um pouco e fala: PAI!!!
Eu juro que ele estava olhando para o Marcos, o Marcos jura que ele estava olhando pra mim.
Pegamos a rodovia, e sentamos a bota de volta a Rondon. Só aí o Marcos se sentiu de novo em casa.
16:30 da tarde, oito horas e meia depois da partida e 95km no ciclo, estávamos em frente ao Laércio (fechado). Vamos na Doce Arte, também fechado. É, acho que tá na hora de irmos pra casa.

Marcondes: Desculpe o sofrimento aí Marcos!
Marcos: Que nada! Se quiser fazer de novo me chama!

E por incrível que pareça, apesar de tudo, dá vontade de fazer de novo mesmo!

2 comentários:

Gustavo disse...

Muito bom!!!
Fiquei com vontade de estar junto nessa...
Quem sabe a próxima?
Gustavo

marcelo. l. k disse...

Marcondes você tem certeza , isso tudo não passo de um sonho.